terça-feira, 6 de março de 2012

Contentamento




A educação inicial que tive com as Testemunhas de Jeová, baseada numa interpretação da Bíblia, era a de que o aniversário natalício não deveria ser comemorado. Entre tantas razões outrora muito bem articuladas a fim de me convencerem acerca do erro na comemoração, estava a sabedoria salomônica, em Eclesiastes 7:1, que diz: "(...), melhor o dia da morte que o do nascimento!" [Versão Almeida Corrigida Revisada e Fiel]

Mas o princípio do contentamento pelas inúmeras dádivas da parte do Dono da Vida me assaltaram com uma alegria particular nesse 6 de março de 2012, ficando, desde já - e para sempre - instituído na minha vida!

Como que uma fonte do meu interior literalmente é jorrada uma alegria em meio à momentânea tribulação por que passo!

E hoje, talvez somente hoje, eu tenha descoberto o verdadeiro sentido do contentamento! Óbvio que há circunstâncias na vida de muita gente que denunciam diferentes graus de dificuldade. Talvez pela minha tardia emancipação da classe dos 'cangurus', eu tenha ganho essa noção com um pouco de força justo agora, no meu primeiro aniversário em novo contexto!

Mas o presente da maturidade, queira DEUS, que vem com a experiência vivida - e não contada, simplesmente, pelos outros -, não deve combinar com o semblante carrancudo, fechado, ausente de graça, de brilho nos olhos, marcado pela aspereza dos que muito sofrem...

Peço a DEUS a benevolência de não me permitir perder a alegria, em meio às intempéries desta vida. Peço ainda a ELE que me conceda a bênção do contentamento, dádiva essa que só pode ser efetivamente experimentada por quem caminha descalço nos desertos da vida, que tem nos lábios a oportunidade de reclamar, ao invés de glorificar, de murmurar, ao invés de calar-se diante do próximo, e faz exatamente o contrário, a fim de aguardar a redenção e a passagem para o próximo deserto, molhando os pés no corredor estreito de águas que nutrem a esperança de mais força para as próximas dificuldades.

Quanto ao mais, oxalá possamos dizer ao longo dos anos o que disse Paulo aos Filipenses (4:12):

"Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade."

Amém!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Charlie, filho de quem?




“A vida é um sonho, Charlie Brown!” [Schulz, 1997]


Que grata surpresa a leitura das tirinhas de Charles Schulz a que tive acesso nos últimos dias. O encantamento com as histórias me fizeram gostar ainda mais dos personagens, especialmente de Charlie Brown, uma projeção quase caricata de mim.


A intenção de Schulz ao criar Charlie, na verdade, era tentar pinçar de sua própria história, no passado vivido na cidade St. Paul, todas as inseguranças vivenciadas pelo eterno criador de Snoopy.


Encerrado o seu labor de cartunista em função do Parkinson que o acometeu, lamentavelmente não temos mais como nos impressionar com tamanha sensibilidade para descrever as melancolias da vida, na roda de amigos criada por Schulz.


Engraçado como essa coisa lúdica de se identificar com personagens infantis às vezes pegam a gente. Desde criança gostava de assistir à turma do Snoopy no SBT, à tarde, no programa de Mara Maravilha. Lembro-me bem que na minha casa a TV era em preto-e-branco, de modo que sequer conseguia visualizar as cores ricas do desenho.


Talvez em razão das minhas dimensões ‘cranianas’ fui apelidado de Charlie Brown por alguns amigos da rua. [Apesar de sacanas, não me dava nos nervos... e, portanto, nada de traumas acumulados por isso! rsrsrs] Algum tempo depois, chegadas as cores à nossa TV, em razão da Copa do Mundo de 1990, nos meus olhos se achou graça ainda maior pelo personagem dono do cão.


Mas Snoopy (rectius: afeto em norueguês) tinha um mundo fantástico. Snoopy era escritor, vacilante na vida amorosa, aventureiro. Ele tinha uma mesa de sinuca, um som e um Van Gogh, tudo de alguma maneira guardado em sua casinha de cachorro.


Charlie, seu dono, de alguma maneira o conquistava dia após dia por todo afeto dedicado ao beagle. No episódio em que seu cão fugiu, logo se permitiu encontrar, numa saga vivida por ele e seu melhor amigo Linus. Por falar em Linus, ninguém instigava tanto Charlie Brown a vencer suas inseguranças quanto o próprio amigo Linus.


Apesar de sua aparência exageradamente infantil e do “paninho azul” que sempre carregava, o amigo punha, na muretinha das reflexões filosóficas mais profundas, Charlie pra pensar... em função do agir necessariamente imediato. E pensar no quê? Pensar em olhar pra fora do encalacrado muro das idéias exculpantes, ora bolas! Afinal, Charlie sofria algumas pilhérias de sua irmã Lucy, que sempre o fazia de ‘trouxa’ quando ia chutar a bola nos jogos de futebol americano e beisebol.


Só que Charlie Brown não tinha muito o que crescer em seu universo interior. Precisava muito mesmo era desenvolver a ‘ética do cuidado’ de que era dotado... e simplesmente ser feliz. Foi assim que conseguiu conquistar a ‘menininha-ruiva’ em face do próprio amigo Linus, com quem disputou seu coração uma dezena de vezes, pelo menos, ao longo dos episódios.


E o que dizer de Márcia? E Petty Pimentinha, que na tradução em português chamava Charlie de ‘Minduim’? Só depois pude observar que as alegorias de Márcia e Pimentinha remetem ao universo gay, pois uma tinha aparência ‘andrógina’ e dominadora. A outra, nitidamente esvaziada de qualquer vaidade, só cumprimentava os amigos com os vocativos ‘Meu’ (na tradução do desenho nos anos 90) ou ‘Senhor’ (na tradução dos DVD’s remasterizados que tenho), na mais sutil alusão ao universo das mulheres pouco femininas.


O desenho era incrível!


Saudoso Charlie Brown... sensível e reto. Choroso quando Linus se mudou de casa, deixando o murinho das lamentações vazio; mas forte e maduro para encontrar os bens perdidos, inclusive seu cão, de quem jamais se separou, por convicção por si e pelo 'malandro snoopy' do amor que os unia.


A par de toda ‘redondeza de cabeça’, a verdade é que a remissão ao passado da vida de Schulz em St. Paul, acrescentou à sua biografia o fato mais curioso e incrível pra mim: o pai dele era barbeiro...


Por essa eu não esperava!!!


terça-feira, 18 de maio de 2010




Ao meu dileto amigo, com quem tenho dividido momentos de pura edificação...





Doeu-me o peito mais uma vez ao escutá-lo pelas linhas escritas daquele e-mail. O sentimento de indignação de outrora, quando a experiência compartilhada por ti acontecera a mim, tomou contornos de gravidade maior, de insegurança generalizada.



Talvez seja por isso que sintamos incômodo mais grave quando 'os nossos queridos parentes e amigos' são atacados em relação ao que nos ocorre a nós mesmos. Foi o que senti em relação ao teu desabafo...



O texto que segue abaixo foi escrito por um dos grandes literatas brasileiros, o paranaense Paulo Leminski [créditos para Myllhyans]. Ei-lo direto pro teu coração, CORAJOSO, terno e grande, quão grandes são os sonhos projetados por Quem te conhece desde o ventre de tua mãe.



Estou aqui, firme no meu compromisso de orar por ti...


Um grande e saudoso abraço, guerreiro!


"No fundo, no fundo, bem lá no fundo,
a gente gostaria de ver nossos
problemas resolvidos por decreto
A partir desta data, aquela mágoa
sem remédio é considerada nula -
e sobre ela - silêncio perpétuo!

Extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada, e nada mais!"

quarta-feira, 5 de maio de 2010




A Doce Revolução do Evangelho



Alegria de ver lucidez em quem ama o Evangelho...

[Autoria desconhecida]



Artigo 1 – Fica decretado que agora não há mais nenhuma condenação para quem está em Jesus, pois, o Espírito da Vida em Cristo, livra o homem de toda culpa para sempre.


Artigo 2 – Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive os Sábados e Domingos, carregam consigo o amanhecer do Dia Chamado Hoje, por isso qualquer homem terá sempre mais valor que as obrigações de qualquer religião.


Artigo 3 – Fica decretado que a partir deste momento haverá videiras, e que seus vinhos podem ser bebidos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e que com elas todo homem pode se lambuzar.


Parágrafo do Momento: Todas as flores serão de esperança; pois que todas as cores, inclusive o preto, serão cores de esperança ante o olhar de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizará mais o bem ou o mal, mas apenas seu próprio tom, pois, o que daí passar estará sempre no olhar de quem vê.


Artigo 4 – Fica decretado que o homem não julgará mais o homem, e que cada um respeitará seu próximo como o Rio Negro respeita suas diferenças com o Solimões, visto que com ele se encontra para correrem juntos o mesmo curso até o encontro com o Mar.


Parágrafo que nada pára: O homem dará liberdade ao homem assim como a águia dá liberdade para seu filhote voar.


Artigo 5 – Fica decretado que os homens estão livres e que nunca mais nenhum homem será diferente de outro homem por causa de qualquer Causa. Todas as mordaças serão transformadas em ataduras para que sejam curadas as feridas provocadas pela tirania do silencio. A alegria do homem será o prazer de ser quem é para Aquele que o fez, e para todo aquele que encontre em seu caminhar.


Artigo 6 – Fica ordenado, por mais tempo que o tempo possa medir, que todos os povos da Terra serão um só povo, e que todos trarão as oferendas da Gratidão para a Praça da Nova Jerusalém.


Artigo 7 – Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido que mesmo o mais injusto dos homens que se arrependa de seus maus caminhos, terá acesso à Arvore da Vida, por suas folhas será curado, e dela se alimentará por toda a eternidade.


Artigo 8 – Está decretado que pela força da Ressurreição nunca mais nenhum homem apresentará a Deus a culpa de outro homem, rogando com ódio as bênçãos da maldição. Pois todo escrito de dívidas que havia contra o homem foi rasgado, e assustados para sempre ficaram os acusadores da maldade.Parágrafo único: Cada um aprenderá a cuidar em paz de seu próprio coração.


Artigo 9 – Fica permanentemente esclarecido, com a Luz do Sol da Justiça, que somente Deus sabe o que se passa na alma de um homem. Portanto, cada consciência saiba de si mesma diante de Deus, pois para sempre todas as coisas são lícitas, e a sabedoria será sempre saber o que convém.


Artigo 10 – Fica avisado ao mundo que os únicos trajes que vestem bem o homem diante de Deus não são feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se vestem com as Roupas do Sangue estão cobertos mesmo quando andam nus.Parágrafo certo: A única nudez que será castigada será a da presunção daquele que se pensa por si mesmo vestido.


Artigo 11 – Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem não ama jamais enxergará qualquer beleza em nenhum lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar.


Artigo 12 – Está permanentemente decretado o convívio entre todos os seres, por isso, nada é feio, nem mesmo fazer amizades com gorilas ou chamar de minha amiga a sucuri dos igapós. Até a “comigo ninguém pode” está liberta para ser somente a bela planta que é.


Parágrafo da vida: Uma única coisa está para sempre proibida: tentar ser quem não se é.


Artigo 13 – Fica ordenado que nunca mais se oferecerá nenhuma Graça em troca de nada, e que o dinheiro perderá qualquer importância nos cultos do homem. Os gasofilácios se transformarão em baús de boas recordações; e todo dinheiro em circulação será passado com tanta leveza e bondade que a mão esquerda não ficará sabendo o que a direita fez com ele.


Artigo 14 – Fica estabelecido que todo aquele que mentir em nome de Deus vomitará suas próprias mentiras, e delas se alimentará como o camelo, até que decida apenas glorificar a Deus com a verdade do coração.


Artigo 15 – Nunca mais ninguém usará a frase “Deus pensa”, pois, de uma vez e para sempre, está estabelecido que o homem não sabe o que Deus pensa.


Artigo 16 – Estabelecido está que a Palavra de Deus não pode ser nem comprada e nem vendida, pois cada um aprenderá que a Palavra é livre como o Vento e poderosa como o Mar.


Artigo 17 – Permite-se para sempre que onde quer que dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal.


Artigo 18 – Fica proibido o uso do Nome de Jesus por qualquer homem que o faça para exercer poder sobre seu próximo; e que melhor que a insinceridade é o silencio. Daqui para frente nenhum homem dirá “o Senhor me falou para dizer isto a ti”, pois, Deus mesmo falará à consciência de cada um. Todos os homens e mulheres que crêem serão iguais, e ninguém jamais demandará do próximo submissão, mas apenas reconhecerá o seu direito de livremente ser e amar.


Artigo 19 – Fica permitido o delírio dos profetas e todas as utopias estão agora instituídas como a mais pura realidade.


Artigo 20 – Amém!

terça-feira, 9 de março de 2010

Dúvida e Maledicência





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"Sou mais do que seu olho pode ver

Então não desonre o meu nome..."

[Pitty/D. Green/A. Kisser em... Me adora]





John Patrick Shanley, nova-iorquino de 60 anos de idade, escreveu, para mim, o papel da vida de Meryl Streep, atriz americana que mais indicações ao Oscar recebeu na história do cinema.



Aquela obra de arte seria apenas mais uma na vida da consagrada filmografia da atriz Meryl, não fosse a riquezada da trama engendrada pelo cineasta e teatrólogo, que há 18 anos não dirigia um filme.



O papel de Meryl, na pele da rígida irmã Aloysius Beauvier, em "Dúvida" (2008), sem embargo da profundidade com que punha à mesa um questionamento sobre a quebra do mistério de como a igreja católica, por anos, celebrava a missa em latim, e, agora, passava a admitir uma reação progressista em que as celebrações passaram a acontecer no idioma oficial, marcou-me muito pela malícia atroz que lhe foi característica em toda a trama.



O ponto alto do filme a partir do qual me inspirei a escrever esse texto é o diálogo estabelecido pelo padre Flynn com a comunidade acerca das provocações maledicentes que percorriam os corredores da escola católica dos anos 60, que começara a enxergar no sacerdote, especialmente pelas lentes da 'manipulada' irmã James (Amy Adams), a figura de um pedófilo hipócrita, contra quem as medidas punitivas deveriam açoitar-lhe o brio e a paz, com repercussões em seu ministério.



E o diálogo reproduzido àquela altura do filme (perdoem-me os cinéfilos pela imprecisão), metaforizou a gravidade e a crueldade que a maledicência humana pode ocasionar à vida das pessoas. O Pe. Flynn (Philip Seymour Hoffman) exortou a igreja com uma sutil e poética menção às plumas de um travesseiro que se esvaem ao vento, se rasgada a fronha de uma altura ventilada...



Quando assisti a esse filme pela primeira vez, estava acompanhado de um grande ser humano, o qual vinha curtindo uma ressaca decorrente do isolamento sofrido, à época, em razão, dentre tantas outras posturas corajosas e austeras, da maledicência humana. Eram muitos boatos, comentários depreciativos, na tentativa de denegrir sua imagem de pessoa honesta, comprometida com o trabalho etc. Sem maiores detalhes...



Imaginei-me no lugar dessa pessoa... e pensei:




- Caramba! Não saberia como lidar com os efeitos nocivos de "plumas-veneno-de-escorpião" lançadas de um desfiladeiro com um objetivo tóxico...




Lembro-me bem, inclusive, de haver comentado com a minha então parceira de escritório sobre a riqueza do filme, especialmente no tocante às consequências da referida maledicência tão intencionalmente engendrada contra aquele Padre.




Não imaginava eu, àquela altura, estar tão próximo de enfrentar uma "onda pesada", como diz meu pai, que tivesse como pano de fundo... uma dúvida e a maledicência.



Mas calma! Enrolado como já estou na 'boca' dos que circunstancialmente querem expiar suas culpas pelas "dúvidas" lançadas sobre o meu caráter, preciso fazer essa ressalva: não sou padre; não se trata de uma questão envolvendo abuso... (rsrsrsrsrsrs)



Contudo, chegam-me à alma dos meus ouvidos informações/relatos inverídicos(as) recheados(as) de desamor sobre meu comportamento, questionamentos acerca de minha pouca reserva de virtudes (a DEUS somente tributo o aperfeiçoamento do meu caráter), que me causam uma náusea constante, o que terminou por motivar a escrita desse texto, reinaugurando uma nova e irreversível fase em minha vida.



É difícil lidar com isso.



Pensei certo sobre minha incapacidade de relevar, ficar bem, ignorar essas coisas, pelas minhas próprias forças...



Se bem que, ao entrar em contato com um prudente amigo, ele me admoestou a calar, a fim de que o silêncio... e o tempo... pudessem trazer de volta a paz aos que maldizem, e o equilíbrio aos que se deixam manipular (ou até manipulam).



De outro lado, sentimentos de ingratidão... e atitudes movidas pela malignidade e pela injustiça... não serão suficientes para comprometer os planos de paz que DEUS tem reservado para mim, desde o ventre de minha mãe.



Seja eu figurante para que a glória de DEUS se manisfeste... e que apenas uma só atitude humana se perceba de minha parte: entregar as cartas de afronta a DEUS, como fez o Rei Ezequias acerca do que recebera de Senaqueribe...



Não há outra eficaz que não a Justiça de DEUS, que, para mim... e na minha vida... até aqui... nunca falhou!!!



Os que maldizem são testemunhas disso...






terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Viva a mediocridade...




Pode parecer irônico, ou até mesmo ‘imbecilizante’ festejar apologeticamente a mediocridade nos dias de hoje, mas é isso que me chega à mente em forma de texto.

Houve uma época em que me chateei muito com meu pai e suas insistentes tentativas de me convencer da oportunidade e conveniência de fazer visitas de domingo, sem antes ‘dar uma ligação pelo menos’ para o destinatário receptor delas [as visitas].
Fui intransigente com ele. Rebati seus argumentos sertanejos lembrando-lhe que o mundo de hoje já não é mais o mesmo, e o espaço de hoje, idem. “Moramos numa capital, painho”, dizia eu, indignado, sustentando, ainda, que seus diletos amigos certamente estavam procurando descansar um pouco da semana estressante, burocratizada, cheia de e-mail’s pra ler, responder, enviar, encaminhar... e que tudo isso empurrava os corpos e mentes cansados pro ‘fundo de uma rede’ no domingo.

Quem conhece meu pai sabe que de inconveniente ele realmente não tem nada, além do que, na verdade, o inconveniente nessas discussões todas era sempre eu mesmo.


Depois de ter vivido algumas experiências frustrantes de boa fé, mas ricas de ensinamento por outros ângulos de visão, tenho tido acessos de falta da mediocridade reinante nas famílias com raízes na primeira metade do século passado, dentre as quais se encaixa a minha própria perfeitamente.


Se mediocridade é estar na média, se o vernáculo tem a ver com ‘meio’, médio, metade, mesmice, mais ou menos, morno... não importa!!! Tenho sentido saudade das praças de Catolé, das voltas infindáveis que dávamos à procura do banquinho escuro pra namorar; tenho sentido saudades de levantar cedo pra ir à feira de manhã, encontrar tio Celso [tio avô meu] e ganhar um ‘batom garoto’, para, depois, negociar com minha irmã do meio; tenho sentido saudades da perspectiva de sentar-me no banco do avivamento bíblico de Catolé e esperar a banda kadosh cantar ‘rebanhão’, ‘catedral’, sair do culto e passar na ‘pracinha dos crentes’ antes de ir pra casa... Ah, que saudade!!!


Talvez haja quem pense incompatível o texto com o título que aponta para uma alusão saudável à mediocridade, quando, na verdade, poder-se-ia ter falado em nostalgia por nostalgia... e pronto!

Mas se todos repararem bem, as coisas das quais lembramos com maior freqüência, e com maior paixão e saudade são as passagens medíocres da nossa vida. As memórias de euforia não nos invade o peito com aquela sensação gostosa de lembrar por lembrar, de lembrar querendo repetir... [Não sei se com vocês é assim também, mas comigo é!]


Normalmente lembramos do balançado de rede, da conversa de um sábado à tarde com um amigo massa que há muito tempo não vemos, lembramos do nosso olho brilhando ao escutarmos uma declaração de amor cara a cara... É ou não é?


E tem algo mais medíocre e gostoso do que uma declaração de amor olho no olho? Pra mim, não...


No mundo dos heróis dos tempos modernos, da caça às bruxas, aos malfeitores, da ‘eternização’ dos anti-heróis, da explosão midiática dos grandes feitos humanos, dos protótipos do ‘anti-cristo’ espalhados pelo mundo afora... tem me feito falta uma rotina normalzinha como a de todos os mortais, aqueles que são retratados como os não-mutantes [ou humanos] da série ‘heroes’, da novela ‘caminhos do coração’, da trilogia ‘x-men’.


Se me ardeu no peito uma vontade desesperada de mediocridade é porque o cansaço da falta de rotina me abateu, a tristeza fruto da correria infértil das pessoas [incluindo a mim] pelas compras, e pelas coisas igualmente invadiu-me a alma.


Viva a mediocridade das memórias reais! Viva a mediocridade da mesa posta de almoço em casa! Viva a mediocridade da ausência nos jantares de negócios! Viva a mediocridade das barrigas cheinhas, dos gordinhos que caminham nas praças e nas praias ao invés de “puxar ferro” nas academias! Viva a mediocridade cantada por Luiz Gonzaga, por Paulinho Moska, por Jessier Quirino! Viva a mediocridade do lavrador, da lavadeira, do humilde pastor e da rezadeira...
Ah... como hoje, precisamente hoje, gostaria de um pneu de carro pra trocar, ao invés de petições a redigir!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Alívio...

"Vinde a mim todos os que estais cansados, sobrecarregados e oprimidos... que eu vos aliviarei!!!" (Jesus Cristo)
Uma sensação de alívio adentrou-me às entranhas hoje, dia 22 de agosto de 2008.
É o fim de uma semana muito carregada, cheia de trabalhos desafiadores... de conteúdos complexos acerca dos quais dissertar em sede de recurso...
Penso que todo alívio buscado por mim, ultimamente, seja nas finanças, seja no trabalho, na família, ou no amor, depende de uma gestação: a concepção de um plano em 'nidação' no útero da razão.
Na vida afetiva, especialmente, as coisas precisam ser planejadas. Apesar do desgaste que se 'despende' refletindo sobre prós e contras de continuar lutando por um 'amor' tido como verdadeiro, ainda assim, vale à pena dar lugar às ponderações, aos convites da nossa porção inteligente, e então verificar a viabilidade de se continuar lutando...
Investir na solução dos problemas tem me deixado a lição de que, independentemente do resultado, nós nos descobrirmos fortes. Fortes, muitas vezes, só de tentar, de perguntar, de insistir, de investigar os porquês da vida. Não abri mão de pensar soluções acerca de alguns problemas... e não me arrependo, pois, hoje, colhi o meu fruto pacífico!!!
A sensação é de alívio... de uma calmaria... de um 'contentamento-contente' [ao contrário do que disse o poeta]...
A próxima etapa é caminhar em direção aos ombros d'Aquele que tudo pode, para quem a nossa vida custou Seu próprio [e Puro] Sangue!!!
"Meu DEUS, que o 'alívio' sentido no princípio dessa nova fase... traga consigo a Tua Presença Inefável, para que frutos do teu Espírito renasçam no meu coração..."