terça-feira, 9 de março de 2010

Dúvida e Maledicência





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"Sou mais do que seu olho pode ver

Então não desonre o meu nome..."

[Pitty/D. Green/A. Kisser em... Me adora]





John Patrick Shanley, nova-iorquino de 60 anos de idade, escreveu, para mim, o papel da vida de Meryl Streep, atriz americana que mais indicações ao Oscar recebeu na história do cinema.



Aquela obra de arte seria apenas mais uma na vida da consagrada filmografia da atriz Meryl, não fosse a riquezada da trama engendrada pelo cineasta e teatrólogo, que há 18 anos não dirigia um filme.



O papel de Meryl, na pele da rígida irmã Aloysius Beauvier, em "Dúvida" (2008), sem embargo da profundidade com que punha à mesa um questionamento sobre a quebra do mistério de como a igreja católica, por anos, celebrava a missa em latim, e, agora, passava a admitir uma reação progressista em que as celebrações passaram a acontecer no idioma oficial, marcou-me muito pela malícia atroz que lhe foi característica em toda a trama.



O ponto alto do filme a partir do qual me inspirei a escrever esse texto é o diálogo estabelecido pelo padre Flynn com a comunidade acerca das provocações maledicentes que percorriam os corredores da escola católica dos anos 60, que começara a enxergar no sacerdote, especialmente pelas lentes da 'manipulada' irmã James (Amy Adams), a figura de um pedófilo hipócrita, contra quem as medidas punitivas deveriam açoitar-lhe o brio e a paz, com repercussões em seu ministério.



E o diálogo reproduzido àquela altura do filme (perdoem-me os cinéfilos pela imprecisão), metaforizou a gravidade e a crueldade que a maledicência humana pode ocasionar à vida das pessoas. O Pe. Flynn (Philip Seymour Hoffman) exortou a igreja com uma sutil e poética menção às plumas de um travesseiro que se esvaem ao vento, se rasgada a fronha de uma altura ventilada...



Quando assisti a esse filme pela primeira vez, estava acompanhado de um grande ser humano, o qual vinha curtindo uma ressaca decorrente do isolamento sofrido, à época, em razão, dentre tantas outras posturas corajosas e austeras, da maledicência humana. Eram muitos boatos, comentários depreciativos, na tentativa de denegrir sua imagem de pessoa honesta, comprometida com o trabalho etc. Sem maiores detalhes...



Imaginei-me no lugar dessa pessoa... e pensei:




- Caramba! Não saberia como lidar com os efeitos nocivos de "plumas-veneno-de-escorpião" lançadas de um desfiladeiro com um objetivo tóxico...




Lembro-me bem, inclusive, de haver comentado com a minha então parceira de escritório sobre a riqueza do filme, especialmente no tocante às consequências da referida maledicência tão intencionalmente engendrada contra aquele Padre.




Não imaginava eu, àquela altura, estar tão próximo de enfrentar uma "onda pesada", como diz meu pai, que tivesse como pano de fundo... uma dúvida e a maledicência.



Mas calma! Enrolado como já estou na 'boca' dos que circunstancialmente querem expiar suas culpas pelas "dúvidas" lançadas sobre o meu caráter, preciso fazer essa ressalva: não sou padre; não se trata de uma questão envolvendo abuso... (rsrsrsrsrsrs)



Contudo, chegam-me à alma dos meus ouvidos informações/relatos inverídicos(as) recheados(as) de desamor sobre meu comportamento, questionamentos acerca de minha pouca reserva de virtudes (a DEUS somente tributo o aperfeiçoamento do meu caráter), que me causam uma náusea constante, o que terminou por motivar a escrita desse texto, reinaugurando uma nova e irreversível fase em minha vida.



É difícil lidar com isso.



Pensei certo sobre minha incapacidade de relevar, ficar bem, ignorar essas coisas, pelas minhas próprias forças...



Se bem que, ao entrar em contato com um prudente amigo, ele me admoestou a calar, a fim de que o silêncio... e o tempo... pudessem trazer de volta a paz aos que maldizem, e o equilíbrio aos que se deixam manipular (ou até manipulam).



De outro lado, sentimentos de ingratidão... e atitudes movidas pela malignidade e pela injustiça... não serão suficientes para comprometer os planos de paz que DEUS tem reservado para mim, desde o ventre de minha mãe.



Seja eu figurante para que a glória de DEUS se manisfeste... e que apenas uma só atitude humana se perceba de minha parte: entregar as cartas de afronta a DEUS, como fez o Rei Ezequias acerca do que recebera de Senaqueribe...



Não há outra eficaz que não a Justiça de DEUS, que, para mim... e na minha vida... até aqui... nunca falhou!!!



Os que maldizem são testemunhas disso...






Um comentário:

Unknown disse...

Daniel, o filme é mesmo muito bonito; parabéns pelo seu texto. Penso, entretanto, que você se fixou na maledicência e esqueceu de algo que, no filme, parece-me fundamental: a dúvida. Na última cena, quando a Madre Superiora não contem a própria angústia e se abraça com a outra freira, ela diz: eu tenho dúvidas. A dúvida, e isso é o mais bonito, não era sobre a pedofilia do padre. Ele provavelmente era mesmo pedófilo (lembre-se que a Madre mentiu, dizendo que havia telefonado e tomado informações no antigo convento do qual o padre fazia parte e do qual havia sido transferido; e o padre, sem saber que ela não tinha ligado, assustou-se e recuou como um patinho. Denunciando, assim, sua culpa). A vingança do padre, entretanto, foi ter roubado da Madre a única certeza que a mantinha viva em sua rigidez católica: a certeza de que Deus existe. Para uma mulher tão rígida, deparar-se com um padre pedófilo colocou a dúvida, e por isso veio o desmoronamento dela no final do filme. Se Deus existe, porque ele permitia aquele tipo de coisa? Essa seria a dúvida que a atormentaria dali por diante. Deus existe? Pergunta forte, para uma freira velha se fazer. Quanto às maledicências dais quais você vem sendo vítima, pense no travesseiro de plumas. O impacto é só na hora que o saco se rasga e que tudo é jogado ao vento; depois as plumas se dissipam e, separadas, perdem a força. Acredite, tudo passa...

André Luis (sao.bartolomeu@gmail.com)